Sobre a GR45
O que é a GR 45?
A Grande Rota do Vale do Côa é um trilho de 200 km, linear, que acompanha o percurso do rio Côa, desde a nascente (em Fóios, Sabugal) à foz (Vila Nova de Foz Côa). Está marcado nos dois sentidos, sendo possível optar pelo sentido sul-norte ou norte-sul. A entidade organizadora sugere que seja percorrida no sentido nascente-foz.
A GR pode ser percorrida a pé, ou de bicicleta, existindo desvios exclusivos para ciclistas. Nas localidades de Almeida e de Algodres (Figueira de Castelo Rodrigo) existem rotas alternativas marcadas, pelo que poderá optar pela rota Este ou rota Oeste.
>> A GR atravessa um vale de patrimónios com muito para descobrir. Encontre os melhores locais para visitar e actividades para fazer na região.
>> Consulte a página dos downloads para aceder aos kml. e gpx. totais e de cada etapa.
CARACTERÍSTICAS
Distância total do trilho marcado – 196 km
Distância total (baseada na etapas, inclui desvios para as aldeias) – 224 km
Duração total – 10 a 15 dias a pé; 3 a 6 dias de bicicleta.
Grau de dificuldade – difícil a muito difícil, existindo etapas com dificuldade média
Altitude máx/min – 1164/129 m
Épocas aconselhadas – primavera e outono
Vale de Patrimónios
Serpenteando entre uma sucessão de planícies férteis e escarpas rochosas, o Côa desenha o seu caminho até ao Douro, contando a História dos grupos humanos que povoaram as suas margens durante milénios. A origem etimológica do Côa remeterá para palavra latina cuda (ribeira), pequeno leito de água de reconhecida importância. Palco de inúmeras guerras e batalhas fronteiriças, o Côa foi, até ao reinado de D. Dinis, fronteira entre os reinos de Portugal e Leão.
Vestígios da presença humana e da sua arte, gravada nas margens do Côa, indicam a existência de comunidades nómadas no vale há mais de 25 000 anos, Do Neolítico, do Período proto-Histórico e da romanização restaram marcas no território, algumas em muito bom estado de conservação. Na Idade Média implantou-se a rede de povoamento que, grosso modo, é a atual, com as suas vilas cabeça de concelho e as aldeias do termo, as vias que as ligavam, servidas de pontes e pontões e as muralhas e torres que defendiam e assinalavam o lugar central.
Devido à baixa densidade populacional que ao longo de séculos marcou o vale do Côa, escapando à grande pressão urbanística contemporânea do litoral, o património arquitetónico e arqueológico perdurou, pelo que pode ser observado no local e nos vários museus e núcleos museológicos de cada Concelho que a Grande Rota atravessa.
Um Vale de Patrimónios por descobrir.
Património Pré-Histórico
Milénio após milénio, as rochas de xisto que delimitam o leito do rio Côa foram-se convertendo em painéis de arte, com milhares de gravuras legadas pelo impulso criador dos nossos antepassados.
Remontando ao Paleolítico Superior, estes “painéis” ao ar livre e os “habitat” identificados são testemunhos do povoamento datáveis de entre há 30 000 e 10 000 anos, expressão da vitalidade e da mestria de concepção dos caçadores artistas do Côa. Esta longa galeria de arte dá-nos registos mais recentes, do período Neolítico e da Idade do Ferro.
Transpondo depois, de um só fôlego, dois mil anos de História, volta, na Época Moderna, a integrar representações religiosas e, de há poucas décadas, nomes, datas e figurações diversas, barcos, comboios, aviões…
Os motivos, na sua quase totalidade gravados, apresentam temáticas, técnicas e convencionalismos comuns às obras contemporâneas da Europa Ocidental que o séc. XIX haveria de descobrir em ambientes fechados nas grutas franco-cantábricas e a viragem do século viria a apelidar de grande arte.
É no séc. XX que a arte do Côa surge ao ar livre, onde um jogo diário e sazonal de claridade e sombras a expõe e esconde numa fantástica sequência de revelação e ocultamento.
Os últimos dezassete quilómetros do rio Côa, com centenas de gravuras do Paleolítico nas suas margens e que se estendem até ao Douro, viriam a pertencer ao primeiro parque arqueológico português – O Parque Arqueológico do Vale do Côa, incluídas desde 2 de Dezembro de 1998 na lista dos monumentos que a UNESCO considera Património da Humanidade.
Todo este magnífico conjunto ao ar livre, que põe de parte o velho mito da arte rupestre encerrada em cavernas, pode ser apreciado na exposição do Museu do Côa.
Informação retirada do site Arte-Côa.pt.
Património Histórico
Período Romano
A influência da presença romana na região do Côa é especialmente notória na sua toponímia, cuda, que deu origem à própria nomenclatura dos povos que habitariam a região, durante o período romano. A margem direita é até ao dias de hoje conhecida como Ribacoa (Concelhos do Sabugal, Almeida e Figueira de Castelo Rodrigo). A margem esquerda (Concelhos de Pinhel, Trancoso e Mêda) seria habitada pelos povo Lancienses Transcudani, os transcudanos, do latim transcudani, trans-cuda , uma vez que do ponto de vista romano o trans-coa seria na margem Oeste sendo Roma o ponto de observação.
Existiriam duas vias romanas, cujos vestígios são ainda encontrados em algumas zonas, uma que seria percorrida no sentido sul-norte e outra oeste-leste. A primeira seria a mais importante, ligando Mérida a Astorga, cruzando o Côa na actual Freguesia de Cinco Vilas, onde ainda remanescem vestígios da sua ponte, e seguiria até Barca de Alva, onde a passagem pelo Douro seria feita por barco, e passava ainda por Freixo de Espada à Cinta.
Adaptado do artigo Vias Romanas no Território dos “Interannienses”, de Manuel Maia, in Beira Interior – História e Património, Guarda, 2000.
Castelo Rodrigo, fotografia Susan Gebbink
Período Medieval
A região ficou marcada de forma notável pela reorganização do território que se deu na Baixa Idade Média. Os vizinhos reinos ibéricos disputavam este troço fronteiriço organizando o povoamento, criando vilas muralhadas cabeças de concelho.
Até ao Tratado de Alcanices em 1297, o rio Coa marcava a fronteira. Assim, entre o Côa e o Águeda, individualizou-se uma região particular, cuja reorganização e repovoamento medievais foram originalmente realizados pelos reis de Leão: o Riba Côa. Do lado português, o início do repovoamento régio, que era afinal o enquadramento das comunidades pré-existentes por poderes externos, arranca na década de 1160.
Progredindo para leste, conhece um momento culminante no final da década de 1190, com o foral da Guarda, e atinge plenamente a linha do Côa com os termos das vilas de Pinhel, Castelo Mendo, Touro e Sortelha, repovoadas já só ao longo do primeiro quartel do século seguinte. Do lado leonês, o ritmo do repovoamento sob a égide do rei de Leão foi paralelo, mas o movimento de sentido oposto, progredindo para poente.
Na década de 1160 iniciava-se o repovoamento de Ciudad Rodrigo, antes uma aldeia periférica do termo de Salamanca, mas as vilas do Riba Côa, como Castelo Rodrigo, Castelo Melhor e outras, surgirão apenas no início do novo século. Esta evolução foi uma resposta ao crescente poder português em zonas que até então tinham estado fora do controlo de um poder central, e à necessidade de gerar um espaço político próprio e bem definido num contexto de intensa rivalidade entre os reinos cristãos. As Batalhas de Argañán (1179) e Ervas Tenras (1199) permitiram a expansão da autoridade de Leão, que definiu a integração das comunidades através dos foros, acordos que garantiam uma margem de manobra às comunidades, convertidas em concelhos, em troca da aceitação do poder régio.
Castelo Melhor
A fronteira foi, nos últimos séculos medievais, cenário de um crescente controlo por parte dos reis de ambos os lados, especialmente das actividades comerciais, com a formação de portos secos e alfândegas. As contendas entre Portugal e Castela fizeram-se igualmente sentir, mas mantinham-se relações entre os concelhos fronteiriços. Com o fim da Idade Média, a fronteira começou a deixar de ser entendida como uma região e um conjunto de comunidades periféricas. Era agora, e cada vez mais, uma linha bem definida e cartografada, sobre a qual se abriam determinadas “Entradas Geográficas”, as rotas que permitiam o acesso à capital do Reino. A localização dos principais conflitos militares do final da Idade Média deixa já claramente perceber um padrão, que as guerras dos séculos XVII, XVIII e primeira década do XIX (iniciando-se na Guerra da Restauração, passando pela Guerra da Sucessão e culminando nas Invasões Francesas), instalariam definitivamente. O interesse e o investimento do poder régio sobre a organização do território nas terras de fronteira vão concentrar-se sobre aquelas “Entradas Geográficas” onde algumas das antigas vilas se transformarão em imensos quartéis militares, de que Almeida e Ciudad Rodrigo são exemplo.
Adaptado de “Coa e Siega Verde. A Arte da Luz”.
PATRIMÓNIO EDIFICADO
Ponte de Sequeiros
Ponte de Sequeiros, fotografia de João Rico
Na época medieval, em que o rio Côa marcava a fronteira entre os Reinos de Portugal e Leão, a travessia do rio era vigiada e protegida por castelos e pontes fortificadas, como a Ponte de Sequeiros.
Construída em granito, esta ponte de estilo românico assenta em três arcos de volta perfeita, sendo o arco central de diâmetro maior. Os pilares são reforçados com talha-mares, estruturas angulares que ajudavam a suportar a força da corrente. A torre, construída numa das extremidades, é característica das pontes fortificadas e servia provavelmente de posto militar de controlo fronteiriço até à assinatura do Tratado de Alcañices, em 1297, altura em que as terras de Riba-Côa foram integradas no reino de Portugal.
A Ponte de Sequeiros foi classificada como Imóvel de Interesse Público em 06/11/1951 e atualmente tem uso exclusivamente pedonal.
Castelos
Fotografia de João Rico
Numa larga curva do Côa, o proeminente castelo do Sabugal vigia o território e a travessia do rio. Mandado construir durante o século XIII pelo rei leonês D. Afonso IX, o castelo defendia a fronteira de Ribacôa dos ataques portugueses.
Depois da assinatura do Tratado de Alcanices em 1297, que integrou Ribacôa e também a vila do Sabugal no reino de Portugal, D. Dinis atribuiu foral à vila e mandou reforçar a sua estrutura defensiva, incluindo a Torre de Menagem, de secção pentagonal e com 28m de altura, considerada uma das mais belas de Portugal.
O Castelo das Cinco Quinas, como é conhecido, tem planta quadrangular foi construído em granito e xisto, e apresenta uma dupla cintura de muralhas. A grandiosidade do castelo permitiu-lhe ser reconhecido como Monumento Nacional em 1910, tendo entretanto sido sujeito a diversos trabalhos de restauro.
Fotografia retirada do site da Câmara Municipal do Sabugal
O Castelo de Vilar Maior está assente numa posição de domínio sobre o vale do rio Cesarão e sobre o povoado que jaz a seus pés. Castelo de montanha, apresenta elementos do estilo românico e gótico, com planta no formato oval irregular.
A posição estratégica de Vilar Maior no contexto de fronteira entre Portugal e Leão cedo determinou que aqui se erguesse um castelo. Ele encontra-se documentado desde a segunda metade do século XI (imediatamente após a campanha das Beiras promovida por D. Fernando Magno), e a sua construção justifica-se neste novo quadro de expansão do reino leonês.
Adaptado website Património Cultural, da Direção-Geral do Património Cultural.
Fotografia de João Rico
Ocupando um cabeço sobranceiro do Rio Côa e do Ribeiro de Cadelos, a antiga vila de Castelo Mendo está implantada a 762 metros de altitude, no concelho de Almeida, e integra a Rede de Valorização do Património – Aldeias Históricas de Portugal.
A vila é caracterizada pela justaposição de dois núcleos muralhados, de diferente idade e significado. O primeiro núcleo, construído na primeira metade do séc.XIII, integra o Castelo e a Igreja de Santa Maria, enquanto o segundo núcleo corresponderá a um crescimento extra-muros, só mais tarde limitado pela cerca, no séc.XIV.
Apesar de a maioria dos monumentos datarem da época medieval, encontram-se indícios de povoamento durante a época do bronze e está por confirmar uma possível intervenção que terá sido levada a cabo no séc. XII, quando D.Sancho I, ao ter encontrado a povoação arruinada, teria ordenado a reedificação do castelo. Em 1229 D.Sancho II concedeu a carta de foral a Castelo Mendo.
Adaptado do artigo: Castelo Mendo: a partir de um espaço urbano medieval, Margarida Tavares da Conceição, in Beira Interior – História e Património, Guarda, 2000.
Fotografia de João Rico
Ocupado desde uma época muito recuada, este ponto dominante sobre o rio Côa fez parte do território disputado por Portugal e pelo reino de Leão durante os séculos XII e XIII. Neste período, Castelo Bom foi uma guarda avançada do lado leonês, contexto em que foi executada a sua primeira configuração enquanto castelo medieval. Em 1282, D. Dinis conquistou a povoação e terá ordenado o reforço estrutural imediato do seu sistema defensivo, para o que passou carta de foral.
Trata-se de um castelo de planta irregular, adaptado às condicionantes do terreno. A entrada no recinto faz-se através de porta de arco quebrado, defendida activamente por torre de menagem quadrangular, hoje arruinada.
Nos últimos séculos, o castelo sofreu uma progressiva decadência quase até à ruína. Em 1834, o concelho de Castelo Bom foi extinto, o que precipitou o desmantelamento da própria fortaleza, sendo a sua pedra reaproveitada para construções privadas. No século XX tiveram lugar algumas intervenções de restauro, mas só em 1999, por conjugação de esforços entre a Câmara Municipal de Almeida e os proprietários, se iniciou a valorização sistemática da aldeia histórica.
Adaptado website Património Cultural, da Direção-Geral do Património Cultural.
Apesar de indícios remeterem para o Período Calcolítico as primeiras povoações a habitar a região de Pinhel, a sua grande importância só viria a ser revelada durante a idade média. O Côa, enquanto palco de lutas fronteiriças, foi motivo para a criação de um sistema fortificado de castelos proeminentes que incluíam Trancoso, Marialva, Pinhel e Castelo Mendo.
A construção da fortaleza de Pinhel terá ocorrido durante o reinado de D. Afonso Henriques no séc.XII, para conter os assaltos do povo leonês. Em 1209, D. Sancho I concede o foral à vila e promove o povoamento e desenvolvimento da economia local. Uma nova muralha terá sido construída no reinado de D. Dinis, que incluiria seis portas: Vila, Santiago, São João, Marrocos, Alvacar e Marialva.
No interior da Cidadela erguiam-se duas torres do mesmo período, que ainda hoje caracterizam esta vila. A torre norte, designada de Manuelina, devido às alterações que sofreu durante o reinado de D.Manuel I, apresenta uma janela manuelina virada a sul e duas gárgulas antropomórficas voltadas para Espanha em jeito de provocação.
Adaptado do site www.cm-pinhel.pt.
Fotografia de João Rico
No termo das terras de Riba-Côa, uma imponente fortaleza-estrela vigia o território. Almeida apresenta vestígios de presença humana desde o paleolítico, estando detectados núcleos castrejos da Idade do Bronze e Ferro, assim como vestígios da presença romana.
A partir do séc. XIV, depois da assinatura do Tratado de Alcanices, Almeida ganha importância estratégica no controlo da fronteira entre Portugal e os reinos de Castela e Leão. Nos séculos XVII e XVIII foi construída a nova fortificação abaluartada, em forma de estrela, tornando Almeida um verdadeiro bastião de segurança durante vários conflitos, incluindo a Guerra da Restauração e as Invasões Francesas.
A construção deste castelo foi promovida por Afonso IX de Leão, integrando a linha defensiva do Côa. Dessa fortaleza românica, conservam-se alguns vestígios importantes e de grande interesse para a evolução da arquitectura militar na região. O castelo deveria estar concluído ou em fase adiantada de obras, por 1209, altura em que o monarca leonês passou a célebre carta de foro à localidade.
Em 1296, D. Dinis conquistou a localidade e confirmou os foros passados por Afonso IX. Um ano depois, a fortaleza passou definitivamente para a coroa portuguesa, pelo Tratado de Alcanices.
No final do século, em 1594, Filipe I elevou a localidade a condado, legando o título a Cristóvão de Moura. Este homem, que chegou a ser vice-rei de Portugal, construiu em Castelo Rodrigo o seu palácio e procedeu a outras obras na fortaleza.
Depois de 1640, durante o processo de Restauração da Independência, o palácio foi arrasado pela população (em revolta contra o domínio espanhol), permanecendo em ruínas até à actualidade. O castelo foi parcialmente restaurado na década de 40 do século XX, mas só muito recentemente foi alvo de um plano geral de intervenção.
Adaptado website Património Cultural, da Direção-Geral do Património Cultural.
Este é um dos melhores exemplos de fortaleza medieval secundária, erguida numa das zonas mais periféricas dos reinos peninsulares. A obra original é leonesa e remonta aos inícios do século XIII, altura a que corresponde uma intensa fortificação da linha de Riba-Côa, zona constantemente disputada pelos monarcas português e castelhano. Foi neste contexto que Afonso VII mandou construir a fortaleza, dando-lhe simultaneamente foral, numa tentativa de consolidação populacional e militar.
Com o Tratado de Alcanices (1297), Castelo Melhor passou para a coroa portuguesa, integrando, a partir daí, a raia nacional. D. Dinis, como prova de afirmação do novo espaço, empreendeu obras e dotou a vila de um novo quadro administrativo, mas a verdade é que Castelo Melhor não cessou de desempenhar um papel secundário e periférico, mesmo na linha de reforço militar de Riba-Côa.
À margem das grandes intervenções restauracionistas da primeira metade do século XX, Castelo Melhor constitui um dos poucos castelos não adulterados pelas vagas de restauro e um dos que poderá trazer mais informação acerca da Baixa Idade Média, assim se efectuem escavações arqueológicas direccionadas para este período.
adaptado website Património Cultural, da Direção-Geral do Património Cultural.
Património Natural
A grande variedade em termos de habitats naturais e não naturais, resultantes da milenar intervenção humana no território, possibilitam a existência de um mosaico florístico característico, que alberga inúmeras espécies animais.
A Grande Rota do Vale do Côa atravessa duas áreas Rede Natura 2000, a Zona de Protecção Especial (ZPE) para Aves do Vale do Côa e a Sítio de Importância Comunitária (SIC) da Serra da Malcata. A norte, já perto da sua foz, o vale escarpado apresenta grandes afloramentos rochosos ideais para aves rupícolas, sendo classificado como Important Bird Area, pela BirdLife International.
Estes estatutos revelam o potencial da região para a observação de aves, onde é possível encontrar mais de 130 espécies, salientando-se as pequenas aves florestais e agrícolas, como a felosa-do-mato (Sylvia undata), o dom-fafe (Pyrrhula pyrrhula) ou o papa-figos (Oriolus oriolus); as aves aquáticas, como o mergulhão-de-crista (Podiceps cristatus); e as mais emblemáticas rapinas, como a águia de Bonelli (Aquila fasciata), a águia-real (Aquila chrysaetos), o britango (Neophron percnopterus) e o abutre-negro (Aegypius monachus).
A Reserva Natural da Serra da Malcata alberga cerca de 218 espécies de vertebrados, sendo o principal enfoque o lince-ibérico (Lynx pardinus), espécie que serviu de base para a criação da Reserva e para a criação da estratégia de conservação em curso, que pretende recuperar e proteger o habitat, aumentar o número de coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), sua presa, e assim criar as condições para o regresso desta espécie ameaçada.
Lince-ibérico, fotografia cedida pelo ICNF
Já na Reserva da Faia Brava os inúmeros estudos referem a existência de 151 espécies de vertebrados, 40 espécies de aranhas e 130 espécies de insectos. Como medida de conservação foram recentemente reintroduzidas duas espécies – cavalos de raça garrana e vacas de raça maronesa, que habitam a Reserva em estado semi-silvestre, desempenhando a sua função de grandes herbívoros na gestão do coberto vegetal, uma vez que o progressivo abandono reflecte-se no desenvolvimento de extensos matos baixos, combustível orgânico em incêndios.
Mamíferos e pequenos carnívoros como a lontra (Lutra lutra), a raposa (Vulpes vulpes), a fuinha (Martes foina) ou a gineta (Genetta genetta) são comuns em ambas as áreas protegidas, sendo principalmente encontradas em zonas de cobertura vegetal densa. De referir o gato-bravo (Felis silvestres), uma espécie esquiva que tem sido avistada em câmaras de armadilhagem fotográfica, na Reserva da Faia Brava, existindo também indícios da sua presença na Serra da Malcata.
Lontra
Devido à rede de ribeiras e afluentes do rio Côa, existem em abundância anfíbios e répteis, como a salamandra-de-pintas-amarelas (Salamandra salamandra), a cobra d’água viperina (Natrix maura) e o cágado (Mauremys leprosa).
FLORA DO VALE CÔA
Nas ladeiras ribeirinhas predominam as culturas mediterrânicas, como a vinha, o olival e o amendoal, comumente complementadas com a pastorícia de ovelhas e cabras. A actividade humana e a intensa utilização para o sector primário durante séculos teve um forte impacto na paisagem e no coberto vegetal existente no vale do Côa. Longas décadas de uso intensivo do solo, utilização do fogo para abertura de pastos e desflorestação de matos para a cultura de cerais, propiciaram a criação de uma vegetação rasteira e arbustiva, mas comprometeram a floresta autóctone.
Predominam os matos baixos de giesta branca (Cytisus multiflorus), piorno-amarelo (Retama spherocarpa), esteva (Cistus ladanifer) e zonas de silvado, com rosa-canina (Rosa canina) e amora-silvestre (Rubus sp.). Especialmente na Reserva Natural da Serra da Malcata, surgem manchas de urze e matos altos constituídos por carvalho-negral (Quercus pyrenaica), medronheiro (Arbutus unedo) e azinheira (Quercus rotundifolia).
A Reserva da Faia Brava integra a Zona de Intervenção Florestal de Algodres e Vale de Afonsinho, formando a maior mancha de montado do distrito da Guarda de sobro e azinho (Quercus suber e Quercus rotundifolia, respectivamente) que inclui ainda a presença de carvalho-português (Quercus faginea). Encontram-se grandes extensões de rosmaninho (Lavandula stoechas) e pequenos apontamentos de tomilho bela-luz (Thymus mastichina) e perpétua-das-areias (Helichrysum stoechas).
No fundo do Vale do rio Côa destacam-se espécies como o zelha (Acer monspessulanum), o zimbro (Juniperus oxicedrus) e o espinheiro (Prunos spinosa), e em linhas ripícolas multiplicam-se os freixos (Fraxinus angustifolia), lódãos (Celtis australis) e choupos (Popullus sp.). De salientar também a existência do tamujo (securinegra tintoria) na Reserva da Faia Brava, uma espécie rara que se estende ao longo das margens do Côa.
VISITE
Descubra, na Reserva da Faia Brava, o Sobreiro de Vinhal de Serrão, uma árvore com mais de 500 anos, classificada de interesse público, protegida por lei (aviso nº 3/2010 de 2010/03/19), nos termos do art.1º, do DL 28/468 de 1938/02/15, e do disposto no art.º 14, do DL 159/2008 de 8 de Agosto).
Baseada em informação retirada de www.icnf.pt, Associação Transumância e Natureza e livro Atlas da Fauna do Vale do Côa.
Património Rural
PATRIMÓNIO RURAL
A rede contemporânea de aldeias e vilas tem a sua origem na Baixa Idade Média, o tempo em que se organizam os reinos peninsulares. Desde então, tecem-se no território modos únicos de construir, de modelar a paisagem, de a nomear, de pastorear rebanhos e lavrar os campos. Este singular viver com o rio sobressai na paisagem, pelas inúmeras ruínas deixadas – noras, moinhos, poldras e travessias – que relembram os seus usos, outrora essenciais à vida nas terras de RibaCôa. As principais culturas mantêm-se – as oliveiras, as amendoeiras e as vinhas, bem como algum pastoreio de ovelhas e cabras. Também a cultura bovina se mantém, com grandes áreas de gado em regime extensivo, e festas importantes como a capeia arraiana e o seu tradicional forcão.
Nas aldeias, permanecem as memórias, narradas na primeira pessoa, que podem ser ouvidas no banco da praça ou à porta da igreja. Os sabores e a gastronomia passa de boca em boca pelas gerações, e as tradições são celebradas nas muitas festas e romarias que alegram o vale do Côa.
Moinho Vale de Espinho, Sabugal
As águas do Côa refrescam e são capazes de mover engenhos que realizam trabalho mecânico. O impulso da água desencadeia o movimento das pás, dos eixos, das turbinas…
Situado a sul da aldeia de Vale de Espinho, do complexo conhecido por “Moinho do Engenho”, fazem parte um moinho e uma fábrica. Era com muita arte que este “engenho”, apelando à valentia das águas, fazia girar as turbinas e a fábrica funcionar.
A eletricidade assim gerada servia não só para produção das mantas, mas também como fonte de energia para outros fins. Foi aqui que, pela primeira vez, se produziu eletricidade na região, e que era suficiente para servir Vale de Espinho e outras localidades, designadamente a cidade da Guarda e Naves Frias em Espanha.
Conhecem-se doze moinhos em Vale de Espinho e dois deles encontram-se operacionais.
No Outono, cada pedaço de terra disponível era semeado com trigo ou centeio. No Verão, dormia-se no campo, em cabanas de palha e a ceifa ocupava toda a família, dia e noite. Depois, Verão ou Inverno, mulas e bois desciam e subiam a encosta, carregando sacos ora de cereal, ora de “pão” (farinha). No fundo do vale, moinho e moleiro prosseguiam incansáveis o seu trabalho de transformar o cereal, sendo o seu serviço pago também em cereal, a chamada “maquia”.
Em cada aldeia, à mesa de cada casa nunca faltaria o pão, alimento base da dieta da população durante séculos.
Etapas 1 e 2 a pé | Etapa 1 BTT
As noras, utilizadas para tirar a água de poços, foram introduzidas na Península Ibérica pelos muçulmanos, sendo a palavra também de origem árabe “na’ûra”.
Bois ou burros caminhavam à volta do engenho, fazendo girar o eixo vertical, que passava o movimento a um conjunto de vasos de metal. Num movimento sucessivamente descendente e ascendente, os vasos transportavam a água do fundo do poço até à superfície. Ao inclinar-se para retomar o movimento descendente, o vaso liberta a água num tabuleiro que a conduz ao destino: outro poço, uma horta ou uma pia para dar de beber ao gado.
À sombra da árvore, o pastor vigia o rebanho que percorre a encosta. À noite recolhem à povoação para se esconderem do perigo que espreita no monte. Nestas terras, desde tempos sem memória que o Homem partilha o seu domínio com o lobo. Quando as presas naturais rareiam (corço, javali), o lobo alimenta-se também de algum gado doméstico mais desprotegido.
Antes do uso generalizado de armas de fogo, as comunidades construíam armadilhas em pedra, os fojos. O lobo era atraído para o seu interior através da utilização de um isco vivo, um cabrito ou borrego. Uma vez lá dentro, o lobo via-se preso, sendo depois abatido. Situado entre Mangide e Vale de Madeira, este chama-se Curral de Lobos ou Fojo da Cabrita.
Hoje, o lobo é uma espécie protegida, devido ao reduzido efectivo das suas populações, sendo a sua perseguição e abate ilegais.
O forno comunitário, onde todos coziam o pão, permitia e fomentava o encontro, a partilha e a cooperação e, não raras vezes, o conforto do corpo e da alma para os mais necessitados. O seu calor, os aromas e a sua relação com a saciedade proporcionavam o bem-estar, que se arrastava enquanto as brasas o permitiam.
Frequentes noutros tempos – cada aldeia possuía pelo menos um – escassos na actualidade, as acções de preservação do património têm permitido a sua recuperação. Em situações particulares é-lhes atribuída uma função pedagógica. É o caso do forno da Malcata, transformado em espaço museológico.
Geralmente de arquitectura circular e em forma de cúpula, construído com tijolo-burro, o forno era encimado com uma camada de terra barrenta que preservava o calor. A parede exterior era revestida com a pedra de maior abundância.
Tem alguma questão?
Se tem alguma dúvida sobre a Grande Rota do Vale do Côa, contacte-nos para o podermos ajudar.